Lá fora se ouvia vozes das conversas alheias, as ondas do mar batendo na praia de pedras, o fiuf-fiuf do encher de um colchão de ar, a briga dos meninos por causa de suas cartas de pokemón, os passos de algumas crianças que passavam a nossa frente procurando conchas e pedrinhas moldadas pela erosão natural da beira do mar, entre outros ruídos vindos do parque atrás de nós. Os sons se misturavam como se numa orquestra sendo regidos pela brisa constante e também pela intensidade dos raios de sol, que volta e meia se escondiam atrás de nuvens que resolveram então aparecer e nos lembrar que o verão já estava prestes a se despedir de nós por mais um ano.
Lá fora a vida se passava como esperado. Aqui dentro, meus pensamentos dançavam como num baile à meia noite, rodando sem parar em passos largos de valsa. Esqueci de depilar minhas pernas. Será que os meninos parariam com a briga se eu os chamasse para jogar bola ou frescobol? Tenho de entrar numa dieta rigorosa assim que voltar de férias. Mais tarde vou bater algumas fotos na praia para mandar para mamãe. A água deve estar fria, só consigo ver cinco pessoas dentro d'água e quatro delas estão em seus colchões infláveis. Também pudera, já viemos tarde para a praia. Com certeza as pessoas já se retiraram para o almoço ou para outros passeios. Será que alguém percebe esses meus pelos crescendo na canela? Que linda a canga daquela senhora. É desse azul que eu gosto! Comecei então a pensar sobre os meus afazeres pendentes, meus planos, meu trabalho. Me perdi mais uma vez em meus pensamentos.
Há alguns anos que eu já uso grande parte da minha hora vaga dando asas aos meus pensamentos, como se os organizando num caderno de anotações. Sem me dar conta, fui parando de falar e de conversar com as pessoas ao meu redor. Cada vez mais me atraia a vontade de organizar meus pensamentos em lotes e classificações. Todos bem arrumadinhos em minha mente, conforme havia feito com as luvas, os gorros, os cachecóis, as bolsas, com as decorações de natal e de páscoa. Tudo bem guardadinho em caixas etiquetadas, ordenadas uma ao lado da outra em cima do meu guarda-vestido, prontas para serem fotografadas para uma revista de casas práticas com otimização de espaços quase sempre mal aproveitados. E foi num desses momentos que ouvi o Darling me dizer: "Há horas que estamos aqui sozinhos em casa e você nem percebeu. Em que você está pensando? Você parece distante e seu olhar está fixo num nada..." Ele tinha razão. Naquela manhã eu não havia percebido que os meninos haviam saido e a casa estava em silêncio. Ao contrário do que ocorria então na praia, os sons daquela manhã só existiam dentro de minha mente, como fundo musical dos meus pensamentos. E era assim que eu passava horas e horas em frente do computador entre leituras, escritas e pensamentos, sem notar que a vida continuava a passar ao meu redor. Eu me abstraia pouco a pouco, cada dia mais um pouco. O real se misturava ao virtual e da mistura se originava um novo estilo de vida.
Lá fora o choro de um bebê cansado da rotina da praia me trouxe de volta aos acontecimentos terrenos. O mau humor do menino ao meu lado, que preferiria ter ficado em casa com seu computador ou se ocupando com o game-boy a apitar numa frequência sintética a sua frente, também tomou minha atenção. Talvez já seja hora de voltar para casa. A praia está cada vez mais vazia. Ainda bem que pelo menos a briga dos meninos cessou. O Darling jogava então frescobol com eles. Por que será que o Darling sempre faz antes de mim o que eu havia pensado em fazer? Nossa, não suporto mais olhar para esses pelos enormes na minha canela...
E olhando o céu, que então já se livrara das nuvens que o escondia, falei entusiamada: "Que lindo dia, não? Alguém quer comer alguma coisa? Eu trouxe frutas, pão e sardinha em lata. Quem está com fome aí?" Vendo um sorriso escondido no canto de cada rosto, quase que pude ler o pensamento comum: Que bom! Ela está de volta!
Lá fora a vida se passava como esperado. Aqui dentro, meus pensamentos dançavam como num baile à meia noite, rodando sem parar em passos largos de valsa. Esqueci de depilar minhas pernas. Será que os meninos parariam com a briga se eu os chamasse para jogar bola ou frescobol? Tenho de entrar numa dieta rigorosa assim que voltar de férias. Mais tarde vou bater algumas fotos na praia para mandar para mamãe. A água deve estar fria, só consigo ver cinco pessoas dentro d'água e quatro delas estão em seus colchões infláveis. Também pudera, já viemos tarde para a praia. Com certeza as pessoas já se retiraram para o almoço ou para outros passeios. Será que alguém percebe esses meus pelos crescendo na canela? Que linda a canga daquela senhora. É desse azul que eu gosto! Comecei então a pensar sobre os meus afazeres pendentes, meus planos, meu trabalho. Me perdi mais uma vez em meus pensamentos.
Há alguns anos que eu já uso grande parte da minha hora vaga dando asas aos meus pensamentos, como se os organizando num caderno de anotações. Sem me dar conta, fui parando de falar e de conversar com as pessoas ao meu redor. Cada vez mais me atraia a vontade de organizar meus pensamentos em lotes e classificações. Todos bem arrumadinhos em minha mente, conforme havia feito com as luvas, os gorros, os cachecóis, as bolsas, com as decorações de natal e de páscoa. Tudo bem guardadinho em caixas etiquetadas, ordenadas uma ao lado da outra em cima do meu guarda-vestido, prontas para serem fotografadas para uma revista de casas práticas com otimização de espaços quase sempre mal aproveitados. E foi num desses momentos que ouvi o Darling me dizer: "Há horas que estamos aqui sozinhos em casa e você nem percebeu. Em que você está pensando? Você parece distante e seu olhar está fixo num nada..." Ele tinha razão. Naquela manhã eu não havia percebido que os meninos haviam saido e a casa estava em silêncio. Ao contrário do que ocorria então na praia, os sons daquela manhã só existiam dentro de minha mente, como fundo musical dos meus pensamentos. E era assim que eu passava horas e horas em frente do computador entre leituras, escritas e pensamentos, sem notar que a vida continuava a passar ao meu redor. Eu me abstraia pouco a pouco, cada dia mais um pouco. O real se misturava ao virtual e da mistura se originava um novo estilo de vida.
Lá fora o choro de um bebê cansado da rotina da praia me trouxe de volta aos acontecimentos terrenos. O mau humor do menino ao meu lado, que preferiria ter ficado em casa com seu computador ou se ocupando com o game-boy a apitar numa frequência sintética a sua frente, também tomou minha atenção. Talvez já seja hora de voltar para casa. A praia está cada vez mais vazia. Ainda bem que pelo menos a briga dos meninos cessou. O Darling jogava então frescobol com eles. Por que será que o Darling sempre faz antes de mim o que eu havia pensado em fazer? Nossa, não suporto mais olhar para esses pelos enormes na minha canela...
E olhando o céu, que então já se livrara das nuvens que o escondia, falei entusiamada: "Que lindo dia, não? Alguém quer comer alguma coisa? Eu trouxe frutas, pão e sardinha em lata. Quem está com fome aí?" Vendo um sorriso escondido no canto de cada rosto, quase que pude ler o pensamento comum: Que bom! Ela está de volta!
24 comentários:
Fatima, como te entendo! Temos esta necessidade de mergulhar em nossos pensamentos, ou no computador para organizar, ou comunicar o que pulula dentro da nossa cabeça...mas isto nos distancia das pessoas que nos cercam e que às vezes se sentem "deixadas de lado" pela nossa "ausência". É um equilíbrio delicado, fazer conviver estas facetas que nos compõem, ainda bem que você consegue.
Beijos e um bom domingo para você.
Conto tão real.Bem gostoso de ler.
Oi Maria Augusta,
Pois é... o mergulho é inevitável, mas voltar à tona é sempre necessário.
Beijos!
Fatima,
Passando para desejar um bom Domingo prá vc!!!
É as vezes eu tb mergulho nos meus pensamentos de uma tal maneira que não vejo nada... Nem as pessoas ao meu lado!!!
Adorei o conto!!!
bjão
Oi Anunciação,
Qualquer semelhança é pura coincidência... hahaha...
Beijos!
Oi Mylla,
Um ótimo domingo para você também e bons mergulhos!
Beijos.
Fátima, tb passei por um período assim querendo ficar só com meus pensamentos, achando que as pessoas que estavam a minha volta nao conversavam coisas do meu interesse; eu estava vivendo em outro mundo, essas coisas...
Mas acredito que sao fases, assim como nossos filhos têm as fases dos Pokemons da vida, rs, nós tb temos as nossas; e acredito mais ainda que em nossos pensamentos conseguimos fazer, organizar, arrumar tudo aquilo que nao conseguimos na nossa realidade.
Um belo texto.
Te desejo uma linda semana
Beijos
Fátima,
Que delícia essa descrição das tuas férias....super casual e lírica ao mesmo tempo...espero que tinham sido ótimos dias, e q as pernas já estejam limpinhas,rsrs...ah, obrigada pelo contato,passarei para minha filha.ela está encantada com Graz.bj
Oi amada,
tem uma surpresa no meu blog pra vc.
grande beijo
Boas energias
Mari
as vezes acontece mesmo,mas no pode divirta-se no mndo virtual mas tenha sempre os pés no mundo real,seu lugar fixo ,bjs!
Mari, minha querida,
você me emocionou!
Adorei ter sido escolhida entre os seus 3 blogs preferidos na Gincana.
Adorei a surpresa!
Um beijão!
Oi Georgia,
Fases de isolamento são como dietas para regenerar a alma.
Beijos!
Oi Adriana,
Seu elogio ao conto é precioso para mim. Valeu.
Aguardo o contato da sua filha.
Beijos!
Oi Márcia,
É isso mesmo!
Beijos.
Adorei o conto de férias!
Que bela escritora encontro aqui,pro meu deleite!rsrs
Obrigada ,por estar entre os meus seguidores. Amo boas leituras e já vi que vou começar com essa listagem aqui no post abaixo. Vou linkar, pra nao perde-la. Parabéns, ah e ri muito quando voce fala com detalhes nas "caixas etiquetadas , ordenadas uma ao lado da da outra" ( nossas manias).Muito bom.Volto depois . Abraços
Oi Lis!
Volte sempre.
Abraços!
Bom dia Fátima passei para ver como vai a tua ressaca...kkkkk que festão...e vc tava brilhante nas tuas conversas...pena que pude ficar pouco mas adorei te encontrar beijinhos... ah e aspirina com guraná é ótimo para pós festas como hoje kkkk
beijão
Olá Fatima. confesso que ainda com um sorriso no rosto com a sua simpatia e o que foi ter a sua companhia? Muito bom!!!
Teu texto leva a gente numa velocidade frequente e tão eloquente que; Socorro!!!!!!!!! que bom que foi ter vindo até aqui nessa tarde de sábado, onde as crianças ocupam-se com os avós que vieram passar o final de semana conosco e eu? Viro-me, entrego-me , mergulho em meus pensamentos..opsssss desculpe..os seus pensamentos, que parecem ter durado exatamente um único momento.
Momento que percebemos exatamente onde estamos.
beijos,
Alôha Fátima,
Mari..a Menina das Rima incluiu-me juto com vc e o Fio de Ariadne nas indicações dela. Tarefa do BlogGincana.
Como não conhecia seu espaço, vim deixar momentaneamente meu apreço pela escolha dela. Oportunamente irei retornar a apreciar seus conteúdos. Inicialmente deixo o convite para vc conhecer o Olhar de Carpe Diem. Bom Final de semana e um forte abraço com muitas bençãos!!
Alôha!!
Hod.
Oi Fátima, estou vindo te convidar a ir no meu outro blog de livros O que elas estao lendo; é que a irma da Maria Augusta deu uma entrevista do livro dela lá e ficou super legal. Achei que vc iria gostar de saber.
http://elasestaolendo.blogspot.com/2009/09/autora-do-mes-como-e-escrever-um-guia.html
Georgia
Bjus
Olá Ví,
seja bem-vinda ao Boa Baltazar!
A caipirinha do Peri estava ótima e por isso não tive ressaca!!! rsrs
Também gostei muito de encontrar você na festa da sexta-feira.
Beijão e volte sempre!
Olá Selena!
Também adorei conversar com você na festa do jorge. Sempre gosto muito de leer seus comentários e suas poesias!
Seja bem-vinda ao "Boa Baltazar" e volte sempre!
Beijão!
Oi Georgia,
Obrigada pelo convite. Já passei por lá.
Beijos.
Olá Hod,
Seja bem-vindo.
Também pretendo conhecer o seu blog. Fomos ambos prestigiados pela Mari. Ela é mesmo muito especial.
Um abraço e volte sempre.
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