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21 de set. de 2009

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Ilustrador: Elder Galvao

12 de set. de 2009

Conto de férias

Lá fora se ouvia vozes das conversas alheias, as ondas do mar batendo na praia de pedras, o fiuf-fiuf do encher de um colchão de ar, a briga dos meninos por causa de suas cartas de pokemón, os passos de algumas crianças que passavam a nossa frente procurando conchas e pedrinhas moldadas pela erosão natural da beira do mar, entre outros ruídos vindos do parque atrás de nós. Os sons se misturavam como se numa orquestra sendo regidos pela brisa constante e também pela intensidade dos raios de sol, que volta e meia se escondiam atrás de nuvens que resolveram então aparecer e nos lembrar que o verão já estava prestes a se despedir de nós por mais um ano.
Lá fora a vida se passava como esperado. Aqui dentro, meus pensamentos dançavam como num baile à meia noite, rodando sem parar em passos largos de valsa. Esqueci de depilar minhas pernas. Será que os meninos parariam com a briga se eu os chamasse para jogar bola ou frescobol? Tenho de entrar numa dieta rigorosa assim que voltar de férias. Mais tarde vou bater algumas fotos na praia para mandar para mamãe. A água deve estar fria, só consigo ver cinco pessoas dentro d'água e quatro delas estão em seus colchões infláveis. Também pudera, já viemos tarde para a praia. Com certeza as pessoas já se retiraram para o almoço ou para outros passeios. Será que alguém percebe esses meus pelos crescendo na canela? Que linda a canga daquela senhora. É desse azul que eu gosto! Comecei então a pensar sobre os meus afazeres pendentes, meus planos, meu trabalho. Me perdi mais uma vez em meus pensamentos.
Há alguns anos que eu já uso grande parte da minha hora vaga dando asas aos meus pensamentos, como se os organizando num caderno de anotações. Sem me dar conta, fui parando de falar e de conversar com as pessoas ao meu redor. Cada vez mais me atraia a vontade de organizar meus pensamentos em lotes e classificações. Todos bem arrumadinhos em minha mente, conforme havia feito com as luvas, os gorros, os cachecóis, as bolsas, com as decorações de natal e de páscoa. Tudo bem guardadinho em caixas etiquetadas, ordenadas uma ao lado da outra em cima do meu guarda-vestido, prontas para serem fotografadas para uma revista de casas práticas com otimização de espaços quase sempre mal aproveitados. E foi num desses momentos que ouvi o Darling me dizer: "Há horas que estamos aqui sozinhos em casa e você nem percebeu. Em que você está pensando? Você parece distante e seu olhar está fixo num nada..." Ele tinha razão. Naquela manhã eu não havia percebido que os meninos haviam saido e a casa estava em silêncio. Ao contrário do que ocorria então na praia, os sons daquela manhã só existiam dentro de minha mente, como fundo musical dos meus pensamentos. E era assim que eu passava horas e horas em frente do computador entre leituras, escritas e pensamentos, sem notar que a vida continuava a passar ao meu redor. Eu me abstraia pouco a pouco, cada dia mais um pouco. O real se misturava ao virtual e da mistura se originava um novo estilo de vida.
Lá fora o choro de um bebê cansado da rotina da praia me trouxe de volta aos acontecimentos terrenos. O mau humor do menino ao meu lado, que preferiria ter ficado em casa com seu computador ou se ocupando com o game-boy a apitar numa frequência sintética a sua frente, também tomou minha atenção. Talvez já seja hora de voltar para casa. A praia está cada vez mais vazia. Ainda bem que pelo menos a briga dos meninos cessou. O Darling jogava então frescobol com eles. Por que será que o Darling sempre faz antes de mim o que eu havia pensado em fazer? Nossa, não suporto mais olhar para esses pelos enormes na minha canela...
E olhando o céu, que então já se livrara das nuvens que o escondia, falei entusiamada: "Que lindo dia, não? Alguém quer comer alguma coisa? Eu trouxe frutas, pão e sardinha em lata. Quem está com fome aí?" Vendo um sorriso escondido no canto de cada rosto, quase que pude ler o pensamento comum: Que bom! Ela está de volta!

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